Um futuro do turismo na Serra da Estrela
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Sem desprezar o turismo tradicional e quem utiliza as instalações hoteleiras, até sem ser num contexto de turismo, as zonas marginais entre a sociedade humana e a Natureza cada vez tenderão a ser maiores e haverá cada vez mais pessoas a usufuír da Natureza.
Existe um potencial enorme e crescente do turismo ambiental / turismo de Natureza / pedestrianismo / turismo de mochila-às-costas.
Nos 6 municípios que abrangem a Serra da Estrela há uma capacidade hoteleira de pelo menos 6000 camas. Segundo o estudo
Figueiredo da Costa, C. A., (2015): Turismo na Serra da Estrela - Impactos, transformações recentes e caminhos para o futuro. Tese de Doutoramento, Univ. Coimbra. 834p.
havia 3777 camas nos 6 municípios, em 2013. O aumento nacional de 2013 a 2019 foi de 36% e tudo leva a crer que o aumento da oferta hoteleira nesta região não tenha sido inferior à média nacional. Com o aumento da oferta na área do alojamento local, muito mais flexível e adaptável que o alojamento turístico 'tradicional' a estimativa de 6000 deve ser próxima do real (e esta página não é um estudo rigoroso ou científico ;-)
Devido ao seu carácter informal, o 'turismo de mochila' passa em grande parte à margem da ocupação hoteleira, mesmo no seu sentido mais amplo, e os cerca de 40 milhões de 'mochileiros' (tradução livre de backpackers) europeus são grandemente desprezados nas estatísticas económicas e oficiais.
São desprezados, ponto. Não só nas estatísticas...
Nas condições demográficas e sociais actuais e futuras, este tipo de turismo e usufruto dos espaços marginais entre a sociedade humana e a natural cada vez terá mais utilizadores e seguidores.
Há vários factores que tornam a Serra da Estrela bastante apelativa ao turismo, especialmente ao turismo de mochila:
a centralidade da Serra da Estrela relativa aos maiores centros urbanos na sua periferia (por ordem crescente de distância: Covilhã, Seia, Guarda, Salamanca, Coimbra, Porto, Lisboa, Madrid),
o seu estado inculto/selvagem,
é atravessada por várias estradas e com proximidade a autoridades e meios de socorro,
proximidade a auto-estradas e comboio
Se o turismo na região fosse estruturado de forma a ser mais apelativo para este nicho de turismo, poderia ter várias potencialidades exploradas. Uma uniformização de marca numa entidade supramunicipal que 'recebesse' os visitantes e, na retaguarda assegurava as infra-estruturas de apoio (informações, reservas de alojamento, socorrismo, rede de percursos) seria uma mais-valia - com pouco investimento criava-se uma marca e uma infra-estrutura para os 'mochileiros da Estrela'
Devia haver uma rede de percursos pedestres integrada, entre os municípios, que não obrigue as pessoas a regressarem sempre ao ponto de partida (a sede municipal, normalmente); uma rede de caminhos pedestres que tivessem laços entre nós. Cada ponto de ligação entre percursos devia ter uma infra-estrutura de apoio que permitisse um pernoitamento e alimentação, um abrigo de montanha - em muitos casos, edifícios existentes podem ser utilizados ou recondicionados, caso de antigas escolas primárias, e casas dos Guardas Florestais. O afastamento entre 'nós' (abrigos / locais de pernoita) devia corresponder aproximadamente a um dia de caminhada, cerca de 20 km. Será a distância ideal, que permite aos menos capazes (menos habituados ou acompanhados de crianças, p.ex.) completar a distância; aos mais resistentes permitiria num dia passar um nó e dois laços. Já um afastamento de p.ex. 30 km entre abrigos, não dá a possibilidade 'de duplicar' o percurso diário, obrigando todos a fazer a mesma distância diária…
Mais informações sobre a construção de caminhos e trilhos, pode ser consultada aqui:
National Park Service - U.S. Department of the Interior (1996): North Country National Scenic Trail. A Handbook for Trail Design, Construction and Maintenance. 108 pp.
A flexibilidade do sistema terá de ser a sua vantagem: dormir no abrigo, ou cá fora, em tenda; comer no restaurante do abrigo (um prato por dia, sem ementa) ou comida transportada; fazer um laço por dia ou dois; levar um cão ou uma criança...
Se a higiene fosse assegurada, a qualidade da comida e a localização dos abrigos fosse boa, e a regularidade do sistema desta oferta turística fosse constante, rapidamente a publicidade de boca-em-boca e através da internet lhe daria viabilidade.
A informação dada aos utentes do sistema, para além de valores e horários deveria incluír também a sensibilização ambiental. Os adeptos do pedestrianismo ambiental são normalmente pessoas com uma predisposição favorável à preservação do ambiente natural, e a sua presença mais regular seria também um apoio na prevenção de ilícitos (poluição, incêndios, etc.)
As imagens nesta página não são minhas, nem são da Serra da Estrela.
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