
Perspectivas futuras
Que mudanças esperar de um projecto como este? Alumas perspectivas e consideraçóes sobre o que esperar.
“The only thing necessary for evil to triumph is that good men do nothing.”
Frase erradamente atribuida a Edmund Burke. A ideia, no entanto, não deixa de ser válida; e aplica-se idealmente à necessidade de preservar o ambiente e plantar árvores…
Com a implementação do Projecto Candeeira Verde, põe-se uma questão muito relevante: quanto tempo demorará até se verem resultados palpáveis, visíveis à observação casual do caminhante que passa no vale?
O observador atento ou que conheça o projecto, muito rapidamente poderá verificar as pequenas alterações que já estão a forçar o ecossistema da Candeeira a mudar para melhor.
Ao observador que nada sabe da iniciativa e tenha passado no vale o ano passado, antes de qualquer alteração visível, pode apenas notar diferenças claramente visíveis passados três ou quatro anos. É o tempo que demorará até as clareiras no matagal de urzes terem sido alargadas até um diâmetro de 4 ou 5 metros, as redes de suporte e protecção das primeiras árvores a serem plantadas já estarão enroladas na posição vertical. Ao fim de 4 anos de implementação do projecto, já devem estar plantadas perto de 1500 árvores (1200 a 1300 nas encostas e 100 a 200 árvores ripícolas no ambiente húmido do fundo do vale).
O vale pode parecer pequeno, na observação em cartografia ou imagens de satélite em aplicações informáticas; no entanto, na observação presencial, o vale abrange um campo visual de 360° e uma distância de observação de vários quilómetros. É um vale amplo e os primeiros milhares de árvores não vão sobressaír entre as duas encostas. Algumas poucas fileiras de plantas com folhas de coloração mais clara que o pano de fundo das urzes. Principalmente os carvalhos têm as folhas num tom verde-alface; os azevinhos podem-se notar pelas folhas lustrosas, já os teixos quase não se distiguirão das urzes…
Um elemento da implementação do projecto que possivelmente será mais facilmente observável é a criação de algumas superfícies espelhadas na água por cima das represas. As giestas dentro da área inundada serão cortadas para serem integradas no material de suporte das represas pelo que os espelhos de água não ficarão completamente escondidos. À volta da Lagoa, a ‘Charca da Candeeira’ também vão ser plantadas árvores: os salgueiros, de crescimento rápido e com folhagem verde-clara ou branca-cinzenta, consoante o lado da folha serão fácilmente identificáveis passados três ou quatro anos de crescimento.
Mas, apenas para o observador atento…
Carvalho com ~ 2 anos.
Imagem: Adobe stock Photos.
O início será sempre a fase mais difícil. Mesmo com rigor e cuidado na selecção e plantação e atenção no acompanhamento com a cobertura de folhas no Inverno e rega no Verão, algumas árvores acaberão por não sobreviver, é a maneira de a própria Natureza eliminar os menos aptos. Podem, e devem, ser substituídas por outras, o que promoverá maior diversidade de idades e dimensões na plantação.
Passados dez a doze anos, terá o projecto terminado a fase de plantação e estará na fase de acompanhamento.
A plantação deverá ter chegado às partes mais altas das encostas mais próximas da abertura do vale. Do lado norte, a grande profusão de pedregulhos e rochedos pode tornar a identificação das novas árvores mais difícil, mas haverá muitos ‘pontinhos verdes’ pela encosta. Já do lado sul será fácil identificar, pela encosta, as plantas novas. Especialmente as primeiras plantadas, na base da encosta, já deverão ter as suas clareiras alargadas ao ponto de se ter limpo a encosta quase toda de urzes; muitas ervas e flores terão aparecido no novo fundo da mata, as folhas largadas pelas árvores nos Outonos já devem fazer ‘tapete’ e o aspecto de ‘fundo de floresta’ começa a surgir…
Com dez a doze anos, as estatísticas da Escandinávia, onde as condições ambientais são mais frias e menos soalheiras que na Estrela, os carvalhos devem estar com uma altura de 6 a 7 metros, de modo que já começam a ganhar porte vertical e a impor a sua imagem no aspecto da recuperação da Candeeira.
No fundo do vale as represas já terão estabilizado o ambiente hidrológico, com o crescimento de plantas do ambiente húmido definido pelo nivel freático, de acordo com a sensibilidade de cada espécie à água no solo (salgueiro, amieiro, freixo, sabugueiro e sanguinho…). O grande aumento do volume de água retida no Outono e Inverno e a recarga do aquífero permitem manter caudal no ribeiro durante o ano todo. É a base de todo um ecossistema de anfíbios, libelinhas, tira-olhos e outros insectos aquáticos, o que por sua vez sustenta uma comunidade de avifauna que já enche o ar de melodias.
As águas de fraca corrente, mas permanentes dão nova vida à população de trutas e salmonetes.
Podemos esperar a presença de garças, cegonhas, lontras e eventualmente castores…
Com a frutificação das árvores de maturação mais rápida, caso das aveleiras, cerejeiras e sabugueios, alguns animais já devem começar a aparecer de forma espontânea e mais permanente, caso p. ex. do esquilo e do corço.
A distância entre árvores, de cerca de 10 metros, e a limpeza inicial do estrato arbustivo, promove para o futuro, uma floresta arejada, clara e com visibilidade lateral. Os herbívoros tenderão a manter esse equilíbrio.
Estes carvalhos já terão ~10 anos… A plantação na Candeeira não será feita em monocultura, sempre plantação de espécies alternadas e variadas.
Imagem: heartoflouisiana.com / Bob’s Tree planting Service
A paisagem no Vale da Candeeira não ficará como na imagem acima, dado tratar-se de um vale inclinado e por estar repleto de pedras e blocos de todos os tamanhos. O substrato florestal tenderá a cobrir gradualmente as rochas mais pequenas. A mistura de árvores de várias espécies irá proporcionar uma paisagem mais variada, de cores e de formas, na floresta: algumas espécies crescem mais na vertical (caso do carvalho, do freixo e do amieiro), enquanto algumas das espécies do sub-bosque tendem a formar um porte arbustivo, caso da aveleira, do azevinho, do azereiro/loureiro e o sabugueiro.
Passados poucos anos, a diversidade de espécies, determinada em parte pelas condições do solo, vai conferir à plantação um ar variado e natural. Os alinhamentos húmidos nas encostas terão espécies diferenciadas (freixos, amieiros, sanguinhos e azevinhos), que separam povoamentos, dominados pelo carvalho, nas áreas mais secas. Essa compartimentação do carvalhal, tornará o ecossistema visualmente mais apelativo, e também mais resistente a pragas de fungos e bactérias, num futuro mais distante e autogerado.
Uma floresta madura, com pastagem de selvagens. A presença de herbívoros é essencial para o bom equilíbrio da floresta (cavalos, bois ou bisontes).
Imagem: Staffan Widstrand / Rewilding Europe.
Um futuro côr-de-(rosa) verde…
Com a consolidação do crescimento das árvores pelas encostas do vale, formar-se-á o ‘tapete’ de folhas, húmido e castanho, que é o principal elemento pirófugo da floresta de folhosas. Devido à circunscrição do vale por escarpados, tenderá a ficar mais protegido, ainda que, eventualmente o ecossistema florestal começará espontaneamente a colonizar os espaços adjacentes.
A floresta de montanha no contacto entre o mundo mediterrâneo e o mundo europeu, na fachada marítima, é um ecossistema muito particular, com uma mistura própria de plantas de ambos os mundos. Neste momento não existe, como ecossistema vivo.
Com a estabilização ecológica do vale, a Natureza conseguirá encontrar os seus caminhos e dispersar de novo a floresta de montanha depois do Vale da Candeeira ficar verde, novamente.
As plantas que integram esse ecossistema ainda existem, dispersas pela Serra. Com a consciência ambiental que devemos ter, o abandono do Vale da Candeeira e a previsível contracção populacional no futuro próximo, ainda vamos a tempo de reavivar esse ecossistema e preservá-lo para futuras gerações!
“A extinção é permanente”!
