
O problema previsível do desenvolvimento
Crescimento negativo
A situação demográfica e social nos países mais desenvolvidos em geral, e também em Portugal, está a passar uma fase de transição muito importante. Já foi aqui referido que a evolução das populações passam por uma fase de aumento, estabilização e diminuição. A principal motivação desta evolução é o avanço científico e tecnológico, que permitem às populações melhorar significativamente as suas condições de vida, não necessitando de descendências tão numerosas para ‘se perpetuarem’ e assegurarem o seu sustento na velhice, e canalizam por isso as suas energias para a fruição da vida e não para os filhos.
O facto de na Europa se terem atingido valores negativos na taxa de cresimento a partir de aproximadamente 2010 (quase todos os países da Europa oriental já têm taxa negativa e quase todos os países da Europa ocidental têm já taxas inferiores a 1% e com tendência decrescente) confirma a tendência demográfica. À excepção do continente africano, todos os demais têm taxas positivas, mas com forte tendência decrescente.
Caminhamos para uma fase de declínio populacional, com melhor qualidade de vida, mais tempo livre e mais espaço inculto para gastar esse tempo. O futuro na nossa sociedade caminha rapidamente para a micro-produção robotizada de grande parte dos alimentos, a saúde assistida por nanopartículas inteligentes, a produção de energia e os transportes descarbonizados. Com os sistemas de produção industrial automatizados, robotizados ou nanobotizados, os empregos vão-se manter quase exclusivamente na área da saúde, da tecnologia, e da restauração, turismo e lazer, com uma franja residual na área alimentar, de serviços e distribuição.
Passamos a ter mais tempo para usufruír, seremos mais racionais na utilização dos recursos e seremos eventualmente menos pessoas; acredito que deixaremos de sobrecarregar tanto o ambiente, a Natureza e o Planeta.
Julgo estarmos próximos de um ponto crítico na nossa história, e vejo poucas pessoas atentas a essa proximidade. Vejo algumas, sim. E o esforço dessas pessoas é louvável. Saúdo aqui publicamente todos os que trabalham na recuperação sustentável dos ecossistemas ameaçados, em Portugal e no Mundo!
Por um lado temos uma tendência perigosa de destruição do ambiente. É um fenómeno gravíssimo e global! Mas relativamente à Serra da Estrela, é igualmente negativo, grave e com possibilidade próxima de se passar o ‘ponto-de-não-retorno’ relativamente à perda de solo florestal, e também a perda de espécies vegetais e recursos hídricos.
Por outro lado temos o desenvolvimento social e demográfico. É um processo muito mais lento e tão invariável como a destruição do ambiente. Seremos menos humanos num futuro não muito distante, e por motivos internos e saudáveis do desenvolvimento das sociedades, teremos forçosamente aprendido a governar melhor o planeta (para sustentar uma população que ainda vai aumentar e com melhores meios tecnológicos). Mais automação levará a mais produção e a mais tempo livre.
A destruição do ambiente não “acontece no dia tal, se…” Acontece agora, ontem e amanhã. Há muitos anos que o destruímos, e havemos de continuar a destruir. Infelizmente. Mas estamos mais atentos, em muitas regiões o ritmo de destruição tende a diminuir, em algumas, poucas, já se recuperam estragos anteriores.
O abandono das Serras e de outras regiões com produtividade reduzida como locais de produção alimentar é definitivo. À luz da evolução económica, social e demográfica, não vortaremos a precisar de utilizar estes sítios, senão para lazer.
Com os restos moribundos da floresta originária, ainda se consegue recostruír o ecossistema da floresta de montanha na Serra da Estrela. Se a degradação avançar muito mais, o custo de recuperação começará a aumentar de forma muito acentuada.
Por enquanto ainda há um pouco de solo, onde estabelecer uma floresta, já com dificuldade. As árvores não crescem em cima da rocha nua e com a perda de solo continuada e acelerada pelos fogos, brevemente o crescimento das árvores se tornará muito difícil e lento, não apenas em alguns sítios, como já acontece, mas essa falta de solo será tão generalizada que só junto dos rios se conseguirá fazer crescer algumas espécies ‘resistentes’. Se chegarmos a esse ponto, a perda ‘da floresta’ será definitiva e permanente…
Ainda se identificam na Serra, entre as plantas existentes, a maioria das espécies identificadas nas análises aos pólens antigos, e a totalidade das espécies arbóreas.
Trabalhemos com mais convicção para conseguir que a nossa destruição seja menor que a recuperação, antes que a poluição, as extinções e a destruição do ambiente natural não consigam ser recuperados.
Temos uma responsabilidade colectiva de devolver as áreas abandonadas ao estado natural e não ao estado delapidado, abusado e destruído em que habitualmente deixamos a ‘natureza’.
Como já aqui foi dito, o ‘simples abandono’ não pode ser uma solução!
