A área de plantação, de acordo com leitura de fotografias aéreas recentes, é de aproximadamente 110 hectares.
50 ha na encosta sul
38 ha na encosta norte
23 ha de área ripícola no fundo inundável
A metodologia aplicada é igual nas duas encostas, com a adaptação das espécies plantadas de acordo com o local.
No fundo do vale, com a criação de um ambiente lacustre / rio anastomosado, utilizam-se espécies adaptadas ao ambiente húmido e aplica-se uma metodologia específica.
Plantação nas encostas
Nas encostas a plantação será um processo mais amplo, abrangente e demorado.
Com um distanciamento médio de 10 metros entre as árvores, corresponde a 9000 árvores a plantar, nas encostas. A encosta norte tem mais afloramentos rochosos e terá por isso menor densidade de plantação.
A espécie predominante da floresta climácica de média-montanha na Estrela, a altitudes como as do Vale da Candeeira - 1400 a 1800 m - terá sido sempre o carvalho negral (Quercus pyrenaica). Será esta a espécie principal utilizada na reflorestação. Intercalada com amieiros junto às linhas de água, com freixos na encosta sul e com azinheiras, na parte inferior da encosta norte.
4500 carvalhos (Quercus pyrenaica)
500 azinheiras (Quercus ilex)
1000 freixos (Fraxinus angustifolia)
intervaladas com árvores do sub-bosque, para assegurar diversidade de habitat
600 aveleiras (Corylus avellana)
600 sanguinhos (Frangula alnus)
200 loureiro-português (Prunus lusitanica)
400 teixos (Taxus baccata)
200 azevinhos (Ilex aquifolium)
Por o carvalho ser a planta predominante na plantação, e por ser a espécie das plantadas que cria mais associações micorrízicas, será preferida a colheita de manta-morta e de folhas secas em mata de carvalho. Esta colheita será feita localmente ao longo do Outono e Inverno. Conforme explicitado de seguida, todas as árvores plantadas serão aconchegadas com manta-morta em cova e folhas secas em cobertura fixada individualmente com rede-de-galinheiro.
O distanciamento entre as árvores deve ser de 10 metros, aproximadamente. Nas rochas desvia-se a plantação. Em rochas maiores, poios ou alinhamentos morénicos subtrai-se o enfiamento de árvores da plantação.
As árvores de sub-bosque devem ocupar lugar próprio na malha decamétrica, não intercalam entre as medidas. São em média 5 de cada espécie, por hectare; será vantajoso para futura polinização que fiquem em proximidade de 10 ou 20 metros entre exemplares da mesma espécie de sub-bosque.
Nas linhas de água e os alinhamentos mais húmidos no solo faz-se naturalmente plantação com espécies hidrófilas e ombrófilas (p. ex. freixo, sanguinho, azevinho). Esses alinhamentos são naturais e devem ser mantidos, não contrariados. Podem separar agrupamentos vegetais o que pode prevenir propagação futura de doenças parasitárias.
A classificação do solo, por avaliação directa em cada clareira/cova deverá produzir, através da plantação, o zonamento natural da vegetação, com a mistura de espécies natural e adaptada às condições do solo em cada local.
Uma clareira poderá apresentar características diferentes da tipicidade preponderante em determinada área. Com o método objectivo e sistemático de avaliação do solo, essas diferenças são reais e devem resultar numa plantação diferenciada e adaptada a cada local, como acontece na ocupação espontânea nas florestas.
Exemplo de selecção de plantas a partir do mapeamento da tipologia do solo, sobre base altimétrica.
A cartografia sobre a imagem altimétrica permite atribuir uma relação espacial entre os factores da humidade e a espessura do solo e os relevos e formas da superfície. Poderá servir de referência orientadora, mas a classificação de cada cova é determinante para a escolha da espécie a lá plantar.
A classificação do solo será por isso sempre registada em papel, no local da recolha da avaliação, e e esses dados transpostos para computador, em tabela “Excel”, com a numeração da cova.
Pode por isso ser registada sobre cartografia topográfica, embora esse registo seja facultativo e não seja determinante para o trabalho, poderá ser um apoio interessante e até orientador, durante o trabalho de plantação.
Os meses que ocupam mais tarefas com preparação de plantas - poda e recolha de estacas e sementes, germinação, criação de raízes em estacas, plantação em couvetes - são os meses do início da Primavera e durante o Outono.
Com a conclusão dos trabalhos de construção de represas de água, o Verão será utilizado para preparar as covas de plantação:
abertura e limpeza de clareiras,
criação de covas individuais para plantação
O fundo do Vale da Candeeira, para além de ser quase plano, tem um contacto nítido com as encostas. É portanto bem visível na paisagem, e quase rectilíneo em alguns sectores do fundo. Para além se ser um contacto entre as formas ‘encosta’ e ‘fundo’, é igualmente um contacto hidrológico e litológico (= de materiais do solo e subsolo), e até na vegetação se nota o contacto: na encosta predominam as urzes e giestas, no fundo plano não há urzes e as giestas são mais espaçadas e com crescimento vertical.
Esse contacto rectilíneo será por isso utilizado como guia na plantação, na abertura de clareiras e covas e para o desenvolvimento progressivo dos trabalhos na encosta sul.
Na encosta norte, mais rochosa e escarpada, a plantação será limitada aos locais com superfícies menos inclinadas e com solo - o contacto rectilíneo do fundo será mais utilizado como guia para plantação no fundo do que na encosta.
Na encosta sul, abrir-se-ão clareiras com o espaçamento definido por motivos logísticos de 10 metros, 5 metros contados do limite do fundo plano para o lado do ribeiro e 5 para o lado da encosta. Será a faixa com melhor qualidade de solo (tipo “A” e “B”) e onde haverá plantação com freixos, azereiros e sanguinhos, 50% das covas relativamente às outras espécies.
Pode-se abrir um ‘corredor’ de ligação entre as clareiras, tanto no sentido longitudinal como transversal.
Desta fiada de clareiras (a “guia”) define-se a altura do futuro espelho de água, no fundo, acima do qual se intercalam carvalhos com freixos e amieiros. Da mesma fiada-guia define-se o trabalho de clareiras pela encosta, onde as espécies deverão obedecer à matriz de espécies de acordo com o tipo de solo em cada local/clareira.
Definição provisória dos Sectores “A” a “G” na encosta Sul.
O contacto entre o fundo e a encosta, bastante rectilíneo, entre os dois pontos de passagem do ribeiro (na Ponte da Bolota e no caminho PR05) tem aprox. 500 metros e será designado o “sector B” da encosta sul. A partir da passagem do caminho PR05 para nascente (Vale Mourisco) é o sector “A”; da Ponte da Bolota para poente (cabeceira do vale) é o sector “C”.
Em cada sector a fiada logo por baixo do contacto ‘fundo><encosta’ tem a letra “a”, a primeira por cima do contacto tem a letra “b”, e seguem as letras do alfabeto, pela encosta acima, com numeração sequencial das covas de poente para nascente. Eventuais fiadas no fundo plano, ou saliências da encosta sobre o fundo, podem ser identificadas com letras “aa”, “bb”, “cc”, desde que sejam ‘geridas’ pelo método da plantação em encosta.
Quando a proximidade do ribeiro e o ambiente da água nas represas predomina, a gestão da plantação deixa de ser por quadrícula e passa a ser executada pela altura sobre a água, com salgueiros, amieiros, freixos e carvalhos a acompanhar o contorno do limite da água. Na área do fundo do vale utilizam-se as designações pela altura (fase-1, fase-2 e fase-3). Geralmente há boa disponibilidade de água e não é necessário avaliar a espessura ou tipologia do solo. Pelo mesmo motivo não se faz abertura de cova, nem se procede a numeração.
Dado o comprimento do vale, serão necessários apenas cinco sectores, no fundo da encosta sul, letras A a E. Ficará assim o topo da encosta com as letras “F” e “G”. Outras áreas de plantação devem ter designações conforme o local de plantação (Vale Mourisco, Portela, Pachão, Cântaros, etc.).
Na encosta norte seguirá o mesmo princípio de plantação ‘por sectores’. São geralmente todos mais pequenos que os da encosta sul. Terão as mesmas designações - norte-A, norte-B, lomba-faceN, lomba-faceS, norte-C, norte-D, ‘Covão do Aires’, ‘Covão das Canelas’, ‘Azimbres’ e ‘topo-norte’ (não, não é um bilhete para ver futebol…).
Ainda não há calendarização para estas áreas.
Para consultar a cartografia actualizada, ver a página.
A forma de plantação será uniforme, com clareira aberta no mato de urze, abertura de cova e enchimento com manta-morta / folhas recolhidas das matas próximas. As clareiras não serão grandes, 1,5 a 2 metros, para assegurar a identificação dos locais. Covas com 40 a 50 cm de largura/diâmetro e profundidade mínima de 30 a 40 cm.
As clareiras devem ser abertas e limpas durante o Verão que antecede a plantação no Outono. As covas devem igualmente ser abertas no mesmo momento e cobertas após arejamento da terra. Deve-se juntar a gravilha ao lado em volume de ca. 1 litro; nos locais onde não haja gravilha terá de ser trazida.
A clareira, maior que a cova, deve manter as urzes sobre o solo, para evitar perda de água. Eventuais giestas podem ficar junto dos corredores de ligação entre as clareiras.
A localização da cova, relativa a arbustos ou pedras que possam proporcionar sombra, é da maior importância: Não se cortam giestas imediatamente ao lado da cova, para sul, melhor: desvia-se a cova, para que seja aberta onde haja sombra, por baixo dos ramos da giesta. Podem-se limpar e cortar as que estiverem a norte da cova.
O procedimento abaixo descrito aplica-se ao momento da plantação efectiva. Na abertura antecipada durante o Verão, apenas se executam os pontos 1. e 2.
Conforme indicado no parágrafo anterior, é importante deixar o solo completamente coberto com ramos de urze ou giesta, para manter a humidade e evt. actividade biológica no solo intacta até se executar a plantação
Aberta a cova, redonda, retiram-se as pedras e raízes, para apenas ficar terra.
Escavar à volta do perímetro do fundo para baixo e para os lados (radialmente à cova) para deixar o contacto com a terra circundante solto e arejado.
Fazer a partir de uma giesta, uma forquilha (formato ‘fisga’, sem elásticos) com comprimento até a bifurcação da forquilha ligeiramente superior à altura da planta após a sua colocação (alinhar planta no ar com giesta no fundo da cova).
No fundo da cova despejar cerca de um litro de gravilha - pedras da decomposição do granito, com menos de 3 cm de tamanho, normalmente sempre disponíveis nas encostas - pode-se facilmente apanhar gravilha limpa no Ribeiro da Candeeira. (um litro ≈ um pacote de leite)
Enfiar a forquilha da giesta na gravilha e encher metade da cova com manta-morta florestal, até o torrão tocar na manta-morta.
As pedras retiradas da cova, ou se nenhuma se tirou, tirar pedras do terreno circundante e com elas fazer uma moldura compacta de pedras na parte inferior da inclinação da superfície de plantação. A moldura de pedras poderá ficar mais compacta e cumprir melhor o seu objectivo (de reter água da chuva no interior da depressão recém criada), se as pedras ficarem ligeiramente salientes relativamente à superfície do solo envolvente da cova (Depois do ponto 4.)
Se o torrão da planta estiver compacto deve-se desformá-lo ligeiramente, para soltar a raíz (deixar a terra do torrão caír para o local onde ficará a planta). Se a raíz principal, no torrão, se tiver virado para cima, por falta de espaço na fôrma de plástico de germinação - deve-se soltar a raíz e virá-la para o lado, ou para baixo se possível. Nesse caso deve-se aconchegar bem a raíz na terra, no ponto 6., e regar com água depois do ponto 8.
Volta-se a encher a cova com a terra que inicialmente de lá se tirou, à volta das raízes da planta, até ficar a superfície trabalhada à tona com a superfície circundante, tendo atenção para nunca enterrar mais do que até a baínha da raíz - nunca enterrar o tronco na terra. A raíz toda, sim; a baínha da raíz e o tronco devem ficar sempre fora da terra!
aperta-se então a terra à volta da planta ligeiramente, até fazer uma ligeira depressão.
Despejar folhas secas sobre a planta, a cobrir a cova anteriormente limpa.
Encher de folhas até cobrir a planta.
Cobrir as folhas com rede-de-galinheiro, formar a rede para ficar mais alta que a planta, segurá-la com a forquilha para não passar por baixo dos ramos da árvore e fixar a rede ao solo com grampos.
Deste modo, Logo após a plantação será a clareira coberta até a altura maior possível e a cobrir a árvore, com folhas secas, fixadas com rede-de-galinheiro. A fixação da manta-morta e folhas velhas é essencial para a nutrição das árvores e também como protecção contra o frio, no primeiro Inverno.
Com o início do terceiro ano de crescimento das árvores (2º Outono) serão as redes levantadas e enroladas, sendo utilizadas as mesmas redes como protecção vertical.
O método mais simples de abertura de buraco no solo com o mesmo tamanho do torrão de enraízamento, compacta o solo no local da plantação e depriva a árvore plantada de fungos micorrizais e nutrientes. Este método não será adoptado neste projecto. Será sempre aberta cova substancialmente maior que o torrão de enraízamento, seguidamente preenchida na base com cascalho e pedras ø < 3 cm; daqui até o contacto com o torrão de enrraízamento preenche-se com manta-morta florestal de modo a assegurar a existência de nutrientes por baixo da raíz e o ambiente fungal favorável para as árvores, assim estimulando o crescimento vertical das raízes e assegurar o êxito da plantação. À volta do torrão e até nivelar com o solo circundante, preenche-se com terra retirada da própria cova após arejamento, de modo a estabilizar a planta na posição vertical.
Como o processo de plantaçao será feito com atenção ao ambiente nutricional e micorrizal favorável, por as plantas serem protegidas de extremos térmicos nos primeiros Invernos, e acreditarmos numa taxa de sobrevivência elevada, e por não se tratar de uma floresta de exploração, serão as árvores plantadas com o ‘distanciamento definitivo’, aproximadamente 10 metros; muito superior ao distanciamento comercial (em mata de exploração silvícola no Norte da Europa, em plantações de faia e carvalho, plantam-se 3000 a 7000 plantas por hectar, para abate ao fim de 40 a 60 anos) e muito superior a outras plantações efectuadas na Serra da Estrela.
As clareiras abertas no matagal de urzes, para abertura das covas de plantação, devem ser alargadas gradualmente, equilibrando a protecção do solo com a competição por nutrientes, tal como o corte gradual das giestas de amamentação. Com 5 anos, devem as árvores estar com 3 a 4 metros, sem giestas de apoio e as clareiras devem-se ter unido entre as árvores, retirando por completo a concorrência por nutrientes.
No desenvolvimento de um projecto de reflorestação ecológica de baixa densidade, a atenção especial à matriz de espécies e o método aplicado na própria plantação das árvores é da maior importância para o êxito dos trabalhos.
A plantação do fundo do vale com espécies ripícolas será feito em função da proximidade da área inundada pelas represas. O fundo é quase plano, sem preferências de exposição solar.
Foi até algumas décadas cultivado com centeio e posteriormente pastado por gado bovino e recentemente gado caprino. Na área cultivada existe agora uma extensa área de gramíneas sobre o antigo solo lavrado, invadido de forma dispersa por giestas. É a única parte do vale onde não há mato de urzes.
Das análises polínicas efectuadas pela Serra, verifica-se a presença de espécies arbóreas que dependem da proximidade de água em vários graus. O género Salix (salgueiro) já aparece no Vale da Candeeira há ca. 14600 anos, nos primeiros intervalos quentes da transição da Idade do Gelo para o pós-Glaciário (‘Holocénico’). O amieiro também é uma presença constante e até nos perfis das turfeiras a maior altitude.
As árvores do ambiente húmido (ripícolas) serão as seguintes:
Salgueiro (Salix sp.) dentro e à volta da área inundada. Precisa ter, pelo menos uma parte, das suas raízes em solo húmido.
Sabugueiro (Sambucus nigra) à volta da área inundada, dentro da área de ensopamento freático e junto das linhas de água e zonas húmidas. Tem de ter pelo menos uma parte das raízes permanentemente fora de água.
Amieiro (Alnus glutinosa) junto das linhas de água e zonas húmidas. É a única planta do ecossistema do Vale da Candeeira que pode crescer com as raízes todas ou quase todas permanentemente imersas (dentro de água). Pode também crescer em solos temporariamente húmidos, tem portanto grande tolerância ecológica.
Sanguinho (Frangula alnus) nas áreas com boa disponibilidade de água no solo, mas fora da ‘zona de ensopamento’ - tal como o sabugueiro, as suas raízes precisam de ‘respirar’. Ao contrário deste, resiste a um período pouco prolongado de secura, no solo.
Na plantação deve-se observar os relevos junto dos locais seleccionados para instalação das represas, identificar as elevações e marcá-las para ordenamento da plantação.
Deve ser feita colheita antecipada de estacas de salgueiro e amieiro, que ficarão parcialmente submersas para criação espontânea de raízes. Demora 4 a 6 semanas. Designa-se por ‘estaca molhada’. O sabugueiro e o sanguinho crescem por ‘estaca seca’ (ramos cortados e guardados em suporte de terra, onde criam raízes ao longo de um ano).
O trabalho da plantação é feito por simples enterramento das estacas com raízes, sem abertura de cova. O solo deve estar húmido ou ensopado e apenas deverá ser necessário abrir um buraco vertical com largura suficiente para acomodar as raízes crescidas sobre a estaca; de seguida acomoda-se rapidamente o terreno à volta da planta e os nutrientes deverão ser assimilados pela árvore devido à disponibilidade de água no solo.
O corte das giestas da área inundada deve ser feito antes da instalação das represas.
Por impossibilidade de trabalhar na área inundada, o corte das giestas deve estar concluído antes de se construír a respectiva represa, para fornecer material lenhoso para entrelaçar nas represas e para retirar as giestas completamente dessa área.
A instalação das represas e a criação de corpos de água são um processo dinâmico e faseado. Como apenas uma espécie das árvores ripícolas pode crescer em áreas completamente imersas (o amieiro), apenas essa espécie poderá, na maior parte dos locais, ser plantada no início do processo de instalação de represas (ver as fases do processo).
Será conveniente deixar algum espaçamento vertical para as espécies que não resistem ao ensopamento total ou parcial das suas raízes (todas as espécies, menos salgueiro e amieiro) . No caso de se optar por subir o nivel da água, numa fase posterior do projecto - expandindo verticalmente uma represa, p.ex. - com um maior afastamento vertical das plantações, será mais simples a subida do nível da água. O fundo do vale é relativamente plano e os pequenos relevos devem ser identificados (evt. marcados no terreno) com referência ao ‘coroamento’ das represas.
O processo de plantação do fundo do vale, vai-se desenvolver de acordo com um nivelamento vertical, apesar da paisagem ter uma extensão lateral muito superior à vertical, e apesar da extensão lateral da água ser o elemento da paisagem predominante e aquele que determinará os limites das comunidades ecológicas. Assim, a plantação do fundo do vale será sempre precedida da instalação de represas de água, pelo menos até final da 2ª fase (ver página referenciada acima), de modo a assegurar melhor saturação freática e a menor profundidade, para permitir a sobrevivência das árvores onde, neste momento ainda não existe senão a vários metros.
As árvores da zona húmida, da floresta de montanha, na Serra da Estrela
O salgueiro (ou ‘chorão’) é a árvore mais característica das margens ribeirinhas: é de crescimento rápido e longevidade curta (<100 anos). Pode crescer com porte arbustivo, ou, se as ramificações forem cortadas o crescimento é vertical até alguns metros de altura, máx. 8 a 10 m, mas com considerável crescimento lateral da copa. Os ramos são muito flexíveis e tornam-se pendentes sob o seu próprio peso (daí o seu nome). Só cresce em locais com boa disponibilidade de água no solo ou aquíferos pouco profundos.
O amieiro é uma árvore de longevidade intermédia (<300 anos) e de porte vertical e copa densa. É a árvore mais tolerante relartivamente à saturação de água no solo: consegue crescer em ambientes florestais ‘normais’, desde que haja períodos com humidade, ainda que não haja saturação do solo; por outro lado, consegue igualmente crescer em locais onde as suas raízes ficam cobertas de água de forma quase permanente.
O sabugueiro é uma árvore do sub-bosque, normalmente de porte arbustivo (5 a 6 m), formato circular e copa densa. Precisa muita humidade no solo, beneficia de períodos de encharcamento ou inundação, mas precisa também de arejamento das raízes, ou seja períodos onde o solo não esteja ensopado ou saturado de água; por outro lado, é sensível à secura e não resiste a períodos de seca de mais de algumas semanas.
O sanguinho é uma árvore do sub-bosque de crescimento vertical até 10 a 15 m de altura. Também precisa de bastante humidade no solo, tal como o sabugueiro também suporta períodos de saturação; no entanto consegue crescer em locais sem inundação e resiste a períodos pouco acentuados de secura.
Como o amieiro consegue crescer em locais onde as suas raízes fiquem quase totalmente submersas, a sua plantação pode ocorrer logo na fase inicial da instalação das represas, nas elevações intermédias na proximidade das linhas-de-água, onde uma eventual posterior inundação não impeça a sua sobrevivência.
No entanto, as outras árvores da zona húnida não suportam a inundação contínua ou muito prolongada. O salgueiro e o sabugueiro devem ser plantados onde haja humidade quase permanente no solo, mas logo por cima da área inundada - precisam de proximidade de água, mas não crescem com as raízes todas dentro…
O sanguinho beneficia do solo húmido; no entanto é uma árvore do sub-bosque que não depende da proximidade imediata de corpos de água e pode ser plantado nas encostas (em sobreposição ecológica com o freixo e com o amieiro). Pode ser plantado nas partes mais altas do fundo do vale, após estabilização inicial do ambiente freático.
Espaçamento / Distância na plantação
No caso dos salgueiros a ‘linha de plantação’ poderá seguir os contornos da curva de nivel ou outras depressões a preencher com água das represas. Por esse motivo pode ser difícil manter um afastamento constante na plantação. Há que ter em mente que o salgueiro cresce em largura, após um crescimento vertical inicial, e é importante guardar uma distância entre indivíduos da ordem de 20 metros e intervalar com sabugueiro ou amieiro, consoante a altura/altitude da sua plantação, relativo ao ‘coroamento’/ futuro nivel da água.
Na zona do contacto entre o fundo e as encostas deve-se tentar intercalar os amieiros e os carvalhos ou freixos, consoante o contacto é da encosta norte ou sul.
Como as represas se irão instalar de montante para jusante (de poente para nascente), de modo a aumentar a capacidade de retenção de forma progressiva, chegado ‘ao fim’ das represas - junto do lago já existente no extremo oriental do vale, denominado ‘Charca da Candeeira’ - é normal haver um reajuste nas represas. Estas são por natureza construções dinâmicas, ancoradas na dinâmica hidrológica. A alteração que a sua instalação vai criar na dinâmica do vale, naturalmente repercutir-se-á nas represas já construídas, de modo a terem de ser refeitas, ampliadas, substituidas ou suplementadas com outras adjacentes às anteriores.
Toda esta dinâmica hidrológica vai passar por uma fase inicial de reajustamento frequente, após a qual o contacto entre o ambiente molhado e seco tenderá a estabilizar. Após essa estabilização será possível plantar as áreas emersas (‘secas’) do fundo do vale com as espécies mais adequadas a cada local, de acordo com as condições hídricas de cada local.
Havendo já uma successão vegetal das espécies mais hidrófilas (salgueiro) nas margens da água para as menos hidrófilas (freixos) nas margens do fundo do vale, será expectável haver um processo de colonização espontânea por parte das espécies mais aptas para as condições em cada local.
E isso será óptimo!!
Todas as plantas indicadas e a utilizar nas plantações no Vale da Candeeira, na execução deste projecto, estão identificadas nos perfis polínicos amostrados em 4 localidades do planalto central da Serra, incluíndo o Vale da Candeeira, a altitudes entre 1400 m e 1800 m alt., conforme literatura de referência:
v.d. Knaap, W.O., v. Leeuwen, J., (1994): Holocene vegetation, Human Impact and Climatic Change in the Serra da Estrela, Portugal. Dissertationes Botanicæ, Vol. 234. p. 497-535. A. F. Lotter & B. Ammann (eds.).
v.d. Knaap, W.O., v. Leeuwen, J., (1995): Holocene vegetation succession and degradation as responses to climatic change and human activity in the Serra de Estrela, Portugal. Rev. Paleobotany and Palynology, 153-211. Elsevier.
Uma explicação resumida sobre pólen, análises polínicas e as conclusões sobre a ex-floresta na Serra da Estrela está aqui. Recomenda-se vivamente a leitura da bibliografia indicada acima que, obviamente, é mais completa!
As plantas, frutos, ramos/estacas ou sementes são recolhidas de plantas existentes na Serra da Estrela, e preferencialmente de plantas o mais próximo possível do Vale da Candeeira, afim de evitar importação e ‘poluição genética’ com plantas de origem externa ou desconhecida.
