Falamos aqui muito de árvores.

De folhosas e de resinosas. De incêndios. De árvores de sub-bosque.

Convém estabelecer as diferenças e os termos, para não haver dúvidas e para referir algumas particularidades.

Nesta página vamos esclarecer algumas designações relativas às árvores, em termos acessíveis, mas para que, quem não saiba ou não esteja atento a algumas particularidades das árvores, entenda melhor como elas funcionam e por que elas são essenciais aos ecossistemas que delas dependem.

As folhosas têm uma designação muito acertada…

São exemplos de folhosas o sobreiro, a tília, o pessegueiro e a laranjeira. Nem todas são nativas da flora portuguesa, mas todas têm folhas e sabemos o que são…

Por analogia deveríamos chamar ‘agulhosas’ às árvores que… têm agulhas. Mas não…

Chamamos-lhes ‘resinosas’, ‘pinheiros’, ou ‘coníferas’.

Têm agulhas, ou raminhos com uma espécie de escamas, e normalmente têm resina.

É o caso típico do pinheiro: tem resina e tem agulhas. Os ciprestes, por exemplo, não têm resina nem agulhas. Existe a designação 'conífera' porque algumas plantas deste grupo têm a forma vagamente semelhante a um cone, os abetos e os ciprestes, p. ex. - outra vez, há muitas que não têm; têm a copa redonda.

Vamos manter a designação de 'resinosas' para as árvores da família Pinaceae, na classe Pinopsida. A família é aqui uma designação técnica/científica e inclui os géneros

  • Abies (abetos),

  • Cedrus (cedros),

  • Larix (larícios),

  • Picea (abetos),

  • Pinus (estes sim, os verdadeiros pinheiros),

  • Pseudotsuga (abetos do Pacífico)

e outros que não são relevantes aqui. Quando se faz referência a um grupo diferente de plantas, será especificado.

As árvores podem-se dividir em

  • as que têm folhas - são folhosas

  • as que não têm folhas - são… hmm…

Será acertado chamarmos ‘conífera’ a algo que não tem forma de cone?

Imagem inferior do site ‘Vivergil’.

As árvores, como todas as plantas, absorvem água do solo e pela evaporação nas folhas e agulhas conseguem elevar a água (com os nutrientes essenciais) até grandes alturas. Uma parte da água é metabolizada pelas plantas, juntamente com o dióxido de carbono absorvido do ar para se manterem e crescer.

As árvores precisam, portanto, de água. Quando vivem em regiões onde a água por vezes escasseia, têm de estar adaptadas, ou não sobreviveriam. Nos desertos tropicais muitas plantas adaptaram-se tornando-se suculentas - acumulam água no seu interior em maior quantidade do que necessitam no momento da sua disponibilidade, para metabolizar mais tarde. Nas zonas frias, onde as temperaturas negativas durante muitos meses impossibilita a absorção de água do solo e também nas regiões de clima mediterrânico, com uma estação quente e seca, a adaptação de transformar as folhas em agulhas minimiza a perda de água.

Entre as folhosas também se encontram adaptações: em regiões mais secas, as folhas são normalmente mais pequenas e têm camadas 'suplementares' que ajudam a protegê-las da perda de água (caso do sobreiro e da azinheira, p. ex.) em regiões mais frias, as árvores reabsorvem grande parte dos nutrientes e quase a totalidade da água contida nas folhas quando acaba a época de crescimento, no Outono, após o que as folhas caem.

Dentro das ‘folhosas’ a diversidade é enorme.

Pertencem a uma divisão das ‘plantas com flôr’ que abrange as rosáceas (morangueiros, roseiras, urtigas, p.ex.), as fabáceas (leguminosas - alfarrobas, couves, ervilhas, giestas e urzes) e ainda as fagáceas, onde estão agrupadas muitos géneros de árvores, tais como aveleiras, carvalhos, faias, nogueiras e vidoeiros.

Quando a Natureza é deixada livre as coisas funcionam sempre na perfeição.

Sempre que virmos uma árvore isolada numa paisagem, devemos pensar assim:

se esta árvore consegue crescer aqui, então é porque ‘árvores’ conseguem crescer aqui - não há mais, só há esta, provavelmente por que o Homem, (na sua eterna ganância de tirar tudo à Natureza, sem devolver) tirou as outras todas…

É o Shifting Baseline Syndrome ‘a funcionar’…

Se pensarmos bem nesta questão - em quantos locais, quantos espaços, quantas regiões poderia haver árvores (e todo um ecossistema a elas associado) e quase não há nenhuma - é assustador!

No caso da Serra da Estrela, como já referido, também já foi coberta por um ecossistema de floresta.

A floresta de montanha no Noroeste da Península Ibérica (acima de ca. 800 a 1000 metros de altitude - varia em função da exposição ao Sol, da humidade no solo, e não só) é dominada pelo carvalho negral (Quercus pyrenaica). Não é a única espécie de árvore que compõe o mosaico florestal, há outras espécies que coexistem com o carvalho negral. Mas o carvalho é, de longe, a espécie mais representada; “que tem mais plantas”, se quisermos.

Os ecossistemas florestais, quando desenvolvidos em pleno, são mosaicos de elevadíssima complexidade biológica, onde vivem, e morrem, em harmonia, fungos, plantas e animais.

Imagem propriedade da Universidade de Copenhaga, Dinamarca.

O carvalho, se tiver tempo, vai crescendo e torna-se num ‘autêntico gigante’ - para isto, ‘tempo’ são pelo menos 300 a 500 anos…

A única árvore que consegue ‘fazer frente’ ao carvalho em tamanho, é o freixo, que também foi identificado nos sedimentos dos lagos da serra, sempre em quantidade muito inferior ao carvalho, mas sempre presente. Está portanto numa situação de co-dominância. Não é ‘dominada’ por que atinge o mesmo tamanho, pelo menos, da espécie dominante, mas com muito menor quantidade de indivíduos.

Todas as outras espécies de árvores identificadas nos sedimentos antigos, são mais pequenas - as que temos aqui designado por ‘árvores de sub-bosque’. Têm um porte mais reduzido, em condições ideais normalmente não ultrapassarão os 8 a 10 metros de altura, e frequentemente exploram as oportunidades de luz na floresta.

O sub-bosque não é apenas exemplares jovens das árvores de grande porte. Naturalmente também fazem parte do sub-bosque, mas a grande dinâmica da floresta resulta da presença de várias espécies arbóreas, cada uma adaptada a condições específicas de humidade, temperatura, luminosidade, etc. Têm épocas de floração e de frutificação distintas, tal como fazem associações fúngicas (os denominados micorrizas) diferentes, de espécie para espécie.

O carvalho, e o freixo também, são árvores que deixam passar bastante luz solar através da sua folhagem para o fundo da floresta. Ainda assim, quando um gigante tomba, por apodrecimento ou tempestade, as árvores do sub-bosque em poucos anos revitalizam-se na clareira. As árvores do sub-bosque mais frequentes terão sido a aveleira, a tramazeira e o sanguinho. Todas são árvores que no Outono dão frutos com abundância e os pequenos mamíferos agradecem.

Os carvalhos que formam a floresta de montanha nas serras portuguesas são de folhagem caduca, e assim também o são a maioria das árvores que juntamente com os carvalhos compõem a comunidade arbórea deste ecossistema, como é o caso do freixo, da aveleira, do sanguinho, do amieiro e do salgueiro, para dar alguns exemplos. São excepções a esta regra, p. ex. o teixo, o azevinho e o loureiro…

A ‘folhagem caduca’ deixa as árvores despidas no Inverno. É uma adaptação ao frio e aos ventos fortes, por as árvores retirarem grande parte da seiva e da água das folhas evitam o congelamento dos tecidos e também a quebra dos ramos durante tempestades. Deixa mais luz descer para o fundo da floresta, permitindo às árvores que mantêm as suas folhas fotossintetizar durante o Inverno.

As folhas ao caír devolvem muita matéria orgânica ao solo - uma árvore de grande porte tem entre 100.000 e 200.000 folhas e conforme a espécie, podem pesar até mais de uma tonelada. Com a chuva as folhas no fundo da floresta ensopam e essa humidade mantém-se ao longo do ano - as novas folhas mantêm o fundo da floresta à sombra, fresco e húmido, durante o Verão. O ambiente persistentemente húmido do fundo da floresta, faz que em poucos anos as folhas sejam completamente decompostas, primeiro em manta-morta, depois em húmus, o substrato nutritivo do solo florestal.

Com a queda das folhas no Outono as árvores contribuem para o sustento orgânico delas próprias e de todas as plantas da floresta.

A humidade contida no substrato florestal, e também nas folhas vivas enquanto presas às árvores, são uma importante supressão de incêndios florestais.

É a principal razão pela qual os incêndios se propagam com grande dificuldade nas matas de folhosas. Até na actualidade isso acontece.

A floresta de folhagem caduca obriga a Natureza a depurar-se no Outono e a repôr as energias na Primavera. Depois de as folhas caírem a floresta fica com ‘um ar fantasmagórico’, mas torna-se muito mais transparente - por isso, talvez, é que o ‘Dia das Bruxas’ ocorre no último dia de Outubro, normalmente antes de as folhas caírem; depois, com a floresta descoberta, não há onde o desconhecido se esconder…

Nota-se muito mais a passagem das épocas, das estações do ano, e muitas plantas florescem no curto intervalo entre o fim do Inverno e a abertura das folhas das árvores, transformando o fundo das florestas em tapetes coloridos por umas semanas. Por outro lado, a queda das folhas permite à chuva caír por todo o chão da floresta e humedecer tudo por igual (nas florestas de árvores de folhagem persistente, ou seja, que ficam nas árvores ao longo do ano todo, as copas densas criam ‘zonas secas’ por baixo da folhagem). O ambiente mais húmido das folhas caídas é muito benéfico para os fungos que decompõem as folhas e nos brindam com os seus cogumelos durante o Outono.