o Projecto Candeeira Verde

Desenvolvimento

O desenvolvimento do projecto é compartimentado em áreas funcionais, espaços geográficos, fases temporais e tarefas.

Tarefas

As estações do ano impõem naturalmente o relógio biológico às tarefas. Em períodos de chuva pouco ou nada se pode fazer; felizmente, mesmo no Outono e Inverno, os períodos de chuva não impedem o agendamento flexível de tarefas para estas estações do ano.

As fases temporais organizam as tarefas em grupos, segundo uma sequência de execução. A sua organização segue o ritmo da Natureza e as prioridades e dependências das tarefas.

Estas são definidas conforme as necessidades emergentes. Algumas, previsíveis, serão calendarizadas e atribuídas ordem e tempos de execução em tabela de Gantt, criada para o projecto. Há naturalmente tarefas imprevisíveis ou cujo desenvolvimento temporal é mais ‘flutuante’ e não permite encaixe em ordem definida de tarefas. Estas tarefas serão hierarquizadas de acordo com a sua importância e executadas segundo o princípio de ‘fazer o mais importante antes de ser urgente’.

As tarefas não são ‘estanques’, na medida que se podem sobrepôr ou justapôr tarefas. Por exemplo o transporte de plantas e a construção de represas (BDA’s) podem ocorrer num mesmo dia; o corte de mato e a colocação de redes protectoras pode acontecer em simultâneo. As funções estão definidas de acordo com a sua calendarização aproximada, mas o seu agendamento pode ser alterado por imposição climatérica, por imposição de tarefa com calendário inflexível (poda, colheita de sementes ou folhas, p. ex.).

Áreas funcionais

A - limpeza de mato

B - plantação

C - construção de represas

D - apoio e infraestruturas

A - Limpeza de Mato

As acções conducentes para o corte de mato arbustivo para abertura de clareiras para plantação de árvores, abertura de caminhos e trilhos de passagem, corte de giestas arbóreas, limpeza de faixas de protecção contra incêndios nas entradas vegetadas (geralmente o vale está flanqueado por escarpas, alguns locais, onde se faz o acesso pedonal, estão cobertos de mato) e o corte de giestas no fundo do vale.

As clareiras para plantação serão abertas com diâmetro de 1,5 a 2 metros para abertura de cova de plantação com manta-morta (retirada do fundo de floresta, de matas próximas - Carvalheira, Moitas, Poço do Inferno, S. Lourenço). Posteriormente e com o início do estabelecimento de crescimento das árvores as clareiras devem-se alargar ao ponto de se tocarem, eliminando-se as giestas e urzes.

As faixas de ‘limpeza contra-fogo’ são clareiras limpas no Vale Mourisco e na Portela das Candeeirinhas e posteriormente na entrada dos Barros Vermelhos (cabeceira poente). Em áreas de mata de pinho os asseiros não impedem a progressão do fogo, pela sua intensidade e altura; em áreas de mato, como é o presente caso, o asseiro ou faixa de limpeza, pode impedir a progressão de eventuais incêndios. São assim prevenidos nas áreas onde a comunicação do vale para o exterior não se faz por escarpa.

No fundo do vale o corte de giesta é incorporado nas represas (BDA’s). As giestas são invasoras nas zonas húmidas, devendo ser substituídas por Salgueiros, Sabugueiros e Amieiros.

B - plantação

No sentido mais amplo inclui a recolha de sementes (nozes, bolotas, alados, etc.) e a sua germinação, a poda e formação de raízes nas estacas (caso do azevinho, teixo, sanguinho, salgueiro e amieiro), para além da própria plantação. Estas actividades preparatórias desenvolvem-se maioritariamente fora do Vale da Candeeira em ambiente protegido de herbívoros.

De acordo com a melhor forma de reproduzir cada espécie (germinação de fruto ou formação de raíz em estaca) será feita a colheita em exemplares existentes na Estrela, dando-se prioridade para os exemplares mais próximos do Vale da Candeeira (caso do azevinho e teixo, p. ex.).

Como existem duas ‘realidades’ bem distintas, do ponto de vista das condições para plantação, as encostas e o fundo plano do vale têm de ser tratadas de forma distinta.

No fundo plano será recriada a ligação entre o ribeiro e as águas subterrâneas, com toda a comunidade lacustre que as análises do pólen nos provam ter existido. Neste momento o ribeiro é apenas uma linha de escoamento de cheias que se está a entalhar na planície; com pouco esforço será retida a água das cheias, e restabelecida a ligação à superfície com as águas subterrâneas.

Será plantada a comunidade vegetal ripícola autóctone.

Nas encostas a espessura dos depósitos glaciários e a ausência de água permanente tornam o trabalho de reflorestação mais exigente. Será recriado o carvalhal natural da Serra, com as espécies evidenciadas, mais uma vez, nas amostras dos pólens do passado, retiradas de várias turfeiras da serra e analizadas cientificamente.

Para uma breve introdução ao trabalho científico da análise do pólen, ver aqui.

As espécies a plantar, tal como a sua combinação/mistura e distribuição e está descrita aqui.

O método de plantação está explicado aprofundadamente aqui.

Finalmente, está aqui uma explicação mais aprofundada dos termos ‘resinosa’, ‘sub-bosque’ e ‘folhagem caduca’.

C - construção de represas

O ribeiro é na actualidade um curso de água perene, que escoa num leito de largura variável entre 2 e >5 metros, encaixado em 1,5 a 2 metros abaixo do fundo plano do vale. Apenas em momentos de cheias, após chuvas prolongadas o nível da água sobe até proximo do rebordo do canal de encaixe, com aumento da velocidade de escoamento e mobilização de detrítos do fundo do leito. Excepcionalmente pode transbordar o canal e inundar alguns metros laterais de tufos de erva e depositar alguma gravilha em ‘dunas’ longitudinais. O curso de água está funcionalmente desligado do fundo do vale, do ponto de vista biológico, hidrológico e geomorfológico.

Pretende-se instalar uma sequência de represas de água, seguindo a metodologia de construção de BDA’s (Beaver Dam Analogues), que são estruturas sem recurso a meios mecânicos cuja função assenta no princípio da integração das estruturas na própria dinâmica hidrológica. Estas represas fazem subir o nível da água faseadamente até deixar de escoar no leito encaixado, mas sobre a superfície plana do fundo do vale. Haverá uma série de efeitos benéficos, tanto do ponto de vista hidrológico como ecológico.

A instalação das represas será feita de poente para nascente, de montante para jusante, portanto. Assim pretende-se iniciar a instalação de modo a reter a menor quantidade de água na represa inicial, expandindo a capacidade de retenção progressivamente. As alterações ao regime hidrológico e o método de construção está explicado em mais pormenor aqui.

D - apoio e infraestruturas

O apoio ao projecto e a construção de infraestruturas consiste na abertura dos caminhos, essenciais à passagem para a execução de outras tarefas do projecto, bem como a criação de patamares e nivelamentos dos caminhos e trilhos.

A abertura, manutenção e limpeza de trilhos será feita de acordo com as normas

‘Standard Specifications for Construction and Maintenance of Trails’ US Forest Service, 1996 (EM-7720-103),

e

‘A Handbook for Trail Design, Construction and Maintenance’, North Country National Scenic Trail, National Park Service, 1996.

adaptadas ao caso local. Não se encontrou qualquer norma escrita em português sobre o assunto, pelo que se utiliza a norma dos Serviços Florestais e Serviço Nacional de Parques Norte-americanos.

Com a reabertura do caminho que liga a Ponte da Bolota à Portela das Candeeirinhas, o acesso ao Vale da Candeeira é mais seguro e directo, faz-se por caminho ‘pavimentado’ e geralmente com inclinação inferior a 10%. (Com ‘pavimentado’ entende-se ‘razoavelmente limpo de ervas e plantas e, onde possível, de superfície aplanada e forrada com pedras ou gravilha.’)

Evita-se deste modo, o caminho por vezes perigoso, que contorna o acesso pelo lado nascente, sobre o Vale do Rio Zêzere. Ver a descrição dos acessos ao vale, na secção abaixo.

‘Infraestruturas’ abrange também os melhoramentos a fazer sobre abrigos e ‘côrtes’ existentes com vista à sua utilização, seja para conforto (pernoita, fogueira) ou para armazenamento (quer de utensílios e plantas a aguardar plantação, quer de lenha cortada em limpezas). Pode ser ainda a mobilização de pedras e rochas para assento/miradouro ou degraus no caminho.

Espaços geográficos

O Vale da Candeeira pode ser dividido em três espaços distintos. É conveniente esta divisão, por respeitar a integridade hidrológica, espacial e vegetal.

  1. - o fundo do vale. Orientado de Oeste para Este, de fundo plano e amplo, com 150 m de largura por 1700 de comprido. Fundo arenoso e desprovido de vegetação, o Ribeiro da Candeeira corre em leito encaixado de 1,5 a 2 m quase rectilíneo, na margem direita (Sul) da planície. Há uma lomba com ca. 10 m de altura que separa o vale em duas planícies - ‘nave de cima’ e ‘nave de baixo’. A nave de cima esta a cerca de 1425 m alt., a nave de baixo está a cerca de 1410 m e tem, na sua área jusante uma extensão turfosa aproximadamente circular com cerca de 100 metros de diâmetro e que em períodos de precipitação fica alagada - tem o nome ‘Charca da Candeeira’.

  2. - a encosta Sul. Pela sua menor inclinação (por ser mais ampla e por o seu desnível ser 100 a 150 m inferior à encosta Norte) e exposição solar menos intensa, é mais humida, tem mais vegetação e maior potencial de crescimento florestal. Tem alguns escarpados, principalmente na sua parte montante (superior), no troço entre a Lagoa dos Cântaros e a Lagoa do Pachão.

  3. - a encosta Norte. A parte inferior/jusante desta encosta sofreu erosão acentuada de solos em tempos pré-históricos e actualmente apresenta-se predominantemente escarpada. O desnível do escarpado é geralmente próximo de 200 metros, o desnível entre fundo e topo ca. 300 m. A parte mais a montante da encosta tem algumas superfícies pouco inclinadas, ‘Covões’, com bom potencial florestal.

Fases temporais

O projecto divide-se em quatro fases, do ponto de vista cronológico. Esta divisão é transversal às áreas funcionais e também à divisão em unidades geográficas espacialmente distintas.

1ª fase - acessibilidade.

2ª fase - início da recolha de sementes, instalação de represas de água.

3ª fase - abertura de clareiras para plantação na base das encostas, inundação do fundo do vale e plantação de ripícolas.

4ª fase - expansão da área de plantação e coalescência das clareiras iniciais e limpeza das áreas de plantação.

Primeira fase: Acessibilidade

Antes de poder desenvolver qualquer trabalho no vale a pré-condição da acessibilidade tem de estar validada/resolvida.

Antes de qualquer intervenção existem três acessos ao vale, todos pedonais (não há acesso rodoviário para o vale, nem será possível a sua construção sem obras de valor tão elevado que não será economicamente viável, nem expectável a sua construção - o vale não é passagem ou ligação potencial entre itinerários existentes e não tem valor interno (ex. volfrâmio ou lítio) que justifique a sua construção)

Um acesso pela ‘Rota do Maciço Central’ (PR-5 - Manteigas) a partir do Covão de Ametade. Tempo: 2,5 horas. Desnível: +130m -120m.

é um caminho moderadamente sinuoso que, na sua parte final - antes de entrar no Vale da Candeeira - obriga a passar um sector em rocha descoberta, exposta a Nordeste, frequentemente húmida ou com gelo em superfície. É uma passagem com alguma perigosidade e que, na prática, impossibilita o transporte de materiais de construção de represes de água ou paletes/couvetes com árvores.

Um acesso pelo ‘altar’/Covão das Canelas, a partir do fundo do Vale do Rio Zêzere, junto da ponte rodoviária na Estrada das Lameiras. Tempo 3,5 horas. Desnível: +330m -10m.

é um caminho aproximadamente rectilíneo, com vista privilegiada sobre o Vale do Rio Zêzere. Sobe o vale do Rio Zêzere na diagonal e vence o desnível entre o fundo deste vale e o vale suspenso da Candeeira. O desnível é de 300 metros.

Um acesso que se pode iniciar na Estrada Nacional 338, ao km 27,2. Faz a Rota do Maciço Central (PR-5), no sentido inverso. Tempo: 3,5 horas. Desnível: +50m -400m.

é um caminho moderadamente sinuoso, que ao longo dos seus 3,5 km obriga a um desnível negativo (descida) de 400 metros.

Como não existe um acesso sem desmível acentuado e sem perigo de queda, optou-se por abrir/limpar o caminho que foi utlizado em tempos idos pelas gentes de Manteigas, quando o Vale da Candeeira era cultivado com centeio. O caminho era conhecido, na época, como caminho da Covilhã, por saír do vale na direcção dessa cidade. Iniciava-se no Covão de Albergaria, mas actualmente só é transitável a partir do Covão de Ametade de onde segue o PR5 até o desvio deste em direcção à Lagoa dos Cântaros. Antes de chegar a essa lagoa, o caminho passa pela portela das Candeeirinhas e desce daí para o Vale da Candeeira, pela sua encosta Sul. Acumula sensivelmente a mesma subida e descida do primeiro caminho indicado acima, mas evita a passagem perigosa deste pela rocha nua.

Tempo: 2 horas. Desnível +120m -120m.

A primeira fase do projecto consiste na recuperação desde caminho. No troço comum com o PR5 o caminho está transitável e marcado. Desde a portela das Candeeirinhas, na cumeada meridional do Vale da Candeeira até o fundo deste mesmo vale, o caminho estava intransitável ou, em alguns troços, completamente colmatado por vegetação giesteira. Tem de ser recuperado ou reconstruído em vários troços. Em algumas secções o caminho originário está ainda transitável e uma recuperação do piso é suficiente.

A primeira fase do projecto consiste ainda na limpeza de três abrigos arruinados utilizados antigamente pelos cidadãos locais quando ocupavam o Vale da Candeeira em períodos mais prolongados. Estes abrigos poderão, sem grande investimento de mão-de-obra, ser utilizados para conforto em pernoitamentos ou para armazenar utensílios de trabalho ou tabuleiros com plantas para germinação ou plantação.

Segunda fase: Subida freática

A segunda fase convém ser iniciada durante a Primavera.

Consiste no início da instalação de represas de água no Ribeiro da Candeeira. Depende da consolidação do acesso pelo caminho da portela das Candeeirinhas. A instalação obriga à deslocação de 10 a 15 estacas de madeira, cilíndricas, com 8 ou 10 cm de diâmetro e ca. 1,5 metros de comprimento. A sua instalação deve começar logo que o caudal de Inverno, mais intenso, termine, poucas semanas após o términus da época de chuvas.

Antes da instalação da represa, deve ser cortado o mato de giestas na área a inundar e imediatamente após, ou durante, a instalação deve ser feita a plantação de árvores ripícolas (após inundação o solo ficará inacessível a trabalhos, por ficar empapado ou submerso).

Nos limítes da área a inundar serão plantados Salgueiros (Salix, sp.). Fora da área a inundar, mas na orla de saturação de água freática serão plantados Amieiros (Alnus glutinosa) e Sabugueiros (Sambucus nigra) como espécie de sub-bosque. Qualquer das três espécies criam raíz de estaca em água, de forma espontânea (‘estaca molhada’); serão cortadas a plantas nas margens do Rio Zêzere, logo por baixo do Vale da Candeeira, e serão mantidas em água durante o tempo de criação de raízes, durante a construção da represa de água. A represa fará o nível da água subir rapidamente, assegurando a sobrevivência das árvores ripícolas; no ambiente aquático de fraca energia, as plantas não correrão risco de ser levadas por correntes de água.

A segunda fase abrange ainda as acções de colheita de sementes, bolotas de carvalho, nozes de aveleira e alados de freixo; colheita de estacas ou podas para enraizamento em viveiro, de teixo, loureiro, sanguinho e azevinho. A colheita será sempre feita a plantas na Serra da Estrela, o mais próximo possível do Vale da Candeeira. A colheita de sementes será feita no Outono, a poda de estacas será feita no Inverno, Outono ou Primavera, conforme a espécie em causa.

Terceira fase: plantação

Com a plantação de árvores germinadas ou crescidas de estacas inicia-se a terceira fase do projecto.

Apesar de também se plantarem árvores ripícolas durante a ‘segunda fase’, esta plantação é feita sem clareiras ou covas, em virtude de ser feito em solo molhado/saturado. A terceira fase do projecto está centrada na plantação de árvores nas encostas, com a logística associada a esta plantação.

Ocorrerá sempre no Outono, com o início da época de chuvas que asseguram a persistência do ambiente fresco e húmido no solo, que permite a sobrevivência das plantas nos seus primeiros meses após plantação.

Durante a terceira fase do projecto deve-se concluír as construções das represas de água iniciais ao longo do ribeiro na extensão do vale. Esta tarefa, como referido no ponto anterior, ocorre durante a Primavera e Verão, pelo que não interfere nas actividades de plantação.

Mas informação específica sobre as represas do tipo BDA e o restauro de rios baseados no processo hidráulico ver aqui.

Quarta fase: acompanhamento

Durante a plantação das árvores, como referido, abrir-se-á uma clareira na vegetação existente; a rede-de-galinheiro, quando levantada à volta da árvore deve protegê-la até uma altura de 1,20 a 1,50 m. Quando a rede estiver horizontal sobre o solo, a proteger as folhas secas do vento, durante o primeiro Inverno, a rede terá de se levantar na parte central para que as folhas (e logo, a rede) cubram as árvores. Estas têm normalmente até 30 cm de altura no primeiro Inverno, para que a rede-de-galinheiro se consiga levantar até essa altura no centro da rede, terá de ter 1,20 ou 1,50 m de largura e comprimento.

Será esse o tamanho das redes que cobrem as folhas secas durante o primeiro Inverno, provavelmente os primeiros dois Invernos, já que a presença de manta-morta de folhas secas é considerada essencial para a nutrição das árvores. Durante o seu segundo Verão deverão crescer e ultrapassar o limite para a rede as cobrir, deverão ter mais folhas e criar a sua própria manta-morta. As redes passarão a ser mais importantes na posição vertical, enroladas à volta do tronco para proteger as árvores de herbívoros - serão utilizadas as mesmas redes nas duas fases de crescimento.

Os carvalhos de folha caduca (em estudos sobre Quercus robur) atingem uma estatura onde têm copa com folhas a uma altura superior a 1,20 m aos 4 ou 5 anos. Com essa dimensão já não precisarão de rede protectora. As clareiras são abertas com 1,5 x 1,5 metros. Serão gradualmente alargadas até as clareiras coalescerem, ou seja, até se juntarem com a da árvore vizinha. Este alargamento é importante por eliminar a concorrência por nutrientes por parte das plantas existentes.

A análise do passado da vegetação da Estrela, evidencia que antes da destruição humana da floresta de carvalhos, a todas as altitudes da Serra, desde a sua base até as áreas mais altas, nem as urzes, nem a giesta tinha qualquer predominância nas comunidades vegetais.

Deste modo, a coalescência das clareiras à volta das àrvores deverá permitir a expansão da comunidade vegetal importada com a manta-morta das matas próximas, para além de aumentar decisivamente a disponibilidade de nutrientes para as árvores.

A plantação de árvores nas encostas deve ser feita da base para cima. Tanto na encosta Sul como na encosta Norte.

A encosta Sul está exposta a norte, pelo que tem menor aquecimento solar. A plantação da base para cima, logo de norte para sul, permitirá às primeiras árvores crescerem antes de começarem a crescer as árvores a sul das primeiras, que lhes farão sombra.

A encosta Norte, pelo contrário tem muita exposição solar, é mais quente e seca e tem actualmente menos vegetação. A plantação da base para cima, neste caso de sul para norte, permitirá às primeiras árvores serem plantadas mais próximas da água freática/subterrânea elevada pelas represas de água e o aparecimento do meio lacustre no fundo do vale. As plantações posteriores nessa encosta terão progressivamente menos disponibilidade subterrânea de água, mas terão mais sombra, e frescura, por as primeiras serem plantadas a sul das segundas. Na encosta Sul, as áreas com solo com aptidão florestal razoável a boa é muito mais dispersa e retalhada do que na encosta norte. Na plantação em compartimentos de solo isolados ou a meia-encosta será determinante para o êxito da plantação a avaliação de disponibilidade de água no solo, a plantação precoce de amieiros junto das linhas de água para dar sombra para carvalhos a plantar posteriormente.